Em 2016, o Cais do Valongo, já reconhecido como patrimônio carioca e nacional, foi
efetivamente visibilizado devido às obras de revitalização da região do atual Porto
Maravilha. Escavações realizadas no local encontraram inúmeros objetos que datam do
período em que esse espaço abrigou o portão de entrada dos africanos escravizados.
Alçado à categoria de Patrimônio da Humanidade, chancela atribuída pela Unesco, foi
então classificado como detentor de valor universal excepcional da memória da
violência contra a humanidade representada pela escravidão. O caso do Cais do
Valongo inspira reflexões em que a memória, enquanto campo de disputas permeado
por distintos processos de produção e articulação das lembranças e esquecimentos dos
diferentes sujeitos sociais, é a chave para a expansão dos debates sobre diásporas,
revitalização de espaços, planejamento urbano, memórias traumáticas,
patrimonialização, relações entre os contextos local e global. Conclui-se que a
construção de uma memória da diáspora africana com base material na região portuária
da cidade do Rio de Janeiro insere-se, sobretudo, em uma perspectiva mercantil e, desta
forma, cabe um lugar especial na reflexão sobre turismo. Tal constatação conduz à
observação de que o turismo guarda uma relação complexa e intrincada com a memória,
pois em locais patrimonializados, via de regra, a memória se torna disponível como
produto turístico.