O poder em pedaços tem como proposta analisar as múltiplas relações de poder e as suas representações a partir do agrego, forma de trabalho que predominou na região mineira do Vale do Mucuri. Entre o final do século XIX e a metade do século seguinte, formou-se dentro de um território isolado dos grandes centros um ambiente de contrastes, repleto também de escassez. Proprietários rurais e agregados, cada um a seu modo, instituíram regras de convivência e valores, e daí construíram símbolos e mitos que deram diferentes formas ao imaginário tanto dos que tinham quanto daqueles que não tinham a posse da terra.
Ao penetrar nos meandros desses vínculos sociais, o professor Márcio Achtschin Santos identifica e analisa como o poder se manifesta em diferentes áreas daquela sociedade fechada: na lida com o campo, nos folguedos, no jogo de retribuições entre vizinhos, nos rituais de morte e saúde, nas cantorias e na construção do imaginário, sem no entanto ignorar a narrativa que as classes dominantes constroem para si mesmas a fim de se legitimar sob os aspectos político e ideológico.